Minha defesa ao nome da peça

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Caixa:

Em volta, o escuro e o sono do bairro criavam uma falsa harmonia, todo detalheescondido, todo defeito na sombra. As arvores poderiam ser de esponjas, as paredescortadas com estilete, como maquete, onde os lugares tem aquela perfeição que nãoalcançam nunca quando se tornam reais. A nossa casa é a Caixa.
Vidro.

Suas paredes muito brancas, um cubo perfeito, espalhavam a luz, criando um halo que aseparava de todo o resto. Era como uma nave que houvesse decidido aterrissar no meioda cidade, ou um set montado para que se criasse de novo um filme antigo sobre o futuro.Como se de repente um pedaço de memória houvesse clareado. Filme mofado e riscadogirando com o barulho do projetor e tudo, e a casa cresce como se eu estivesse correndo.A porta de vidro da Caixa me reflete.

E nem um carro entrando a toda pela esquina tira alguma parte de sua concentração.O cheiro de lugar fechado, de coisas molhadas e esquecidas.As vozes da Caixa formam uma massa única e oscilante, como uma reza, pedaçoesquecido e pedaço lembrado. Toda a educação da Família Caixa.
Acendeu a lanterna.

Fez o feixe de luz dançar pelas paredes ate que cruzasse com a presença melancólicade uma poltrona rasgada, bem no meio da sala vazia. Silver tape. Nada que lembrasse oformato tranqüilizador de um sonho padrão.

Tenho a sensação de andar sobre uma planta baixa de algum lugar ainda não construído.O fim se confunde com algo anterior ao começo.

Todas as superfícies são a prova de pó ou impressão digital, e as coisas são coladas paraque nunca saiam do lugar. Uma dessas coisas que, de tão estragadas com o tempo, setornaram teimosas demais.

Madame Savoye em trinta e seis reclamava das infiltrações, chove na entrada, chovena rampa, e a parede da garagem esta completamente ensopada, continua chovendono banheiro, inundando a cada chuva, a água passa pela janela do teto. E um anodepois ainda com problemas, Monsieur, depois de numerosas reclamações, finalmentereconheceu-se que a casa construída em 1929 não era habitável.
Não houve tumulto algum. Os pedaços caíram no silencio de quem olhava.
Inadequação.

Excesso de transparência

Uma maquina de morar.

Trechos de Carol Bensimon, editados por Bernardo Lorga que ainda não conseguiu se entender com a tecnologia e postar no blog. Risos.

 

©2011 CACO - possível produção de memória para o espaço da casa | Realizadora Miúda | Design: TNB