Gabriela Lírio fala sobre CACO

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CACO é um espetáculo que tece fragmentos da vida dos atores e do diretor Caio Riscado. CACO é um convite à infância e a constatação da morte das coisas: a morte da pureza, a morte dos modelos de pai e mãe, a morte do amor idealizado, a morte das relações que são descortinadas à medida que temos de enfrentá-las. O enfrentamento nos leva ao risco, à beira do abismo, à falta de sentido, à desrazão , ao questionamento de nossa condição humana na delicada passagem da adolescências para a idade adulta. Uma adolescência hoje “alargada” pela dificuldade de ser independente, não só economicamente, mas também ser independente das figuras de autoridade que nunca foram vistas como tal. A diferença é respeitada pelo diretor que, de forma sensível e inteligente, constrói uma dramaturgia de afetos, baseada em depoimentos e na descoberta de que corpos que, guardando suas especificidades, provenientes de suas memórias tão físicas e, por isso mesmo, legítimas, reverberam em choques sucessivos de realidades. CACO se inscreve na falta, na percepção de que a vida adulta não traz repostas, e sim mais e mais perguntas. É preciso esquecer para lembrar. É preciso ver CACO como uma viagem ao tempo futuro. O futuro é o passado que ainda não aconteceu, disse uma vez uma enigmática Clarice Lispector. Penso em como a memória é um presente duplo, presente do tempo e de arte da presença. Para mim, CACO é um belo, poético, ritual de passagem. Criado na delicadeza, pleno de afeto e desejo. Foi um prazer nosso encontro!


Gabriela Lírio
Professora Doutora da UFRJ e orientadora do espetáculo

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