quebrou

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Quebrou o colar que ficava bem com todas as roupas e seria aquele que nunca iria quebrar devido ao especial cuidado e atenção. Quebrou o brinco e também quebrou batom. Quebrou o barco de brinquedo da forma mais violenta que já se viu algo sendo quebrado. Antes quebrou paciência, depois proximidade. Quebrou a perna e abriu a cabeça. Junto quebrou a beleza de uma criança que dançava balé no centro da sala e a felicidade de encontrar uma foto que a mãe tanto procurava. Quebrou a distância a vergonha e o pudor. Quebrou o chuveiro, quase teve um curto circuito e naquele dia, naquela tarde nublada, pensamos em tomar banho de balde com a água do tanque, depois pensamos em aquecer a água do tanque no fogão e aí sim tomar banho de balde com a água do tanque aquecida no fogão. Quebrou o ar condicionado a mesma vontade de sempre de voltar pra casa. Essa quebrou muito antes. Quebrou copo no café da manhã, copo no almoço e copo no jantar. Quebrou a mesa de jantar. Quebrou o computador e a família toda. Quebrou algo que não tem nome e se perdeu. Parede. Quebrou parede e canos e rodapé e teto. O chão quebrou muito pouco. Quebrou o sofá da sala, o puxador, a maçaneta, a geladeira, o microondas, a torradeira, tudo de uma vez. Quebrou uma espécie de paz. Só uma, um dia. Quebrou qualquer respeito. Quebrou tolerância e depois intolerância. Quebrou a dieta e pior de tudo: quebrou o combinado. Quebrou o ziper da bolsa. Quebrou a cama. Quebrou o relógio, o despertador. Quebrou, só quebrou.

Pêra, uva, maçã ou salada mista ?

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texto.

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peço, a todos que já possuam textos inseridos em estruturas que, por favor, tenham atenção a eles. decorar é fundamental, mas compreender o que se diz é mais ainda. vamos com calma.

inté sexta.

MI VIDA DESPUES (My life after)

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Trabalho da diretora argentina Lola Arias.

Referências sobre nossos pais, sobre diversas possibilidades de pensar o audiovisual, da ordem dos acontecimentos simultâneos, da plasticidade e manipulação dos objetos. Delícia.

Rosas | ROSAS DANST ROSAS

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A maravilha enviada por Luar. A exatidão, a respiração e a fragmentação dos tempos e dos movimentos é belíssima. Respirem!

Caquito.

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Moradores, depois de alguns pontos levantados hoje gostaria que amanhã pudéssemos conversar um pouco sobre o que já esta "levantado". Vamos pensar esses materiais, seus diálogos e, acima de tudo, tentar traçar uma continuidade para o que já temos. Acho, de fato, que continuarmos no esquema de juntar lé com cré primeiro, para depois aprofundarmos todas as nossas questões é a melhor opção que temos. Vamos juntos contra este vazio que nos afronta, vamos ser guerreiros, encarar o desafio como mochileiros. Peço que revejam suas anotações, pensem, sobretudo, no espetáculo, em sua pulsação e poética maior. Vamos nessa!

eu preciso falar da beleza dele ou eu ia postar outra coisa mas...

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Decidi dizer para você um, que fico feliz quando percebo que seu lugar é junto do meu. Que agente brinca de marido e mulher, e dá certo. Que agente brinca de irmãos siameses, e dá certo. Agente dá certo e pronto. Simples.
Decidi dizer para você outro, que na nossa casa eu não sei direito onde você mora porque sempre que eu chego você acabou de sair. Que a nossa casa está sempre em silencio, a não ser quando eu choro ou quando você ri. Durmo agarrada no seu pé e você no meu, como aquelas irmãs que sempre riem e choram juntas. Firmes.
Decidi dizer para você, que é meu presente misterioso, enrolado num laço de fita que não cessa de desfazer, que tua melancolia é a minha. Não porque tomo-a para mim, mas porque também está aqui. inteiro.
E pra você que me rodeia, e que me falta mais, dizer que sinto prazer só de olhar. Te ver. Nosso tempo é outro, é nosso. Sempre.

Para depois do sexo: o nosso ritual de lavagem.

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huaf
huaf
huaf
huaf

salto para a direita

huaf huaf

salto para a esquerda

huaf huaf

troteio

vou de reggae cinco vezes

quatro nucas

entro com a mão direita, cabeça

sou cavalheiro

respiro, aceito o duelo

três elefantes:

onde você esconde a verdade sobre a sua piscina

É como me sinto:

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da arte de admirar bagagens e tentar diariamente extrair o melhor delas.

o lugar que você senta na mesa diz muito sobre você.

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Desde a nossa chegada eu sinto uma vontade enorme de tentar dizer algo que só era capaz de sentir. E verbalizar as entrelinhas é uma tarefa muito difícil para um mero escritor de horas vagas. Talvez seja capaz de verbalizar as entrelinhas de personagens, pois este é meu ofício de ator, mas aqui quem escreve não é um personagem mas sim uma pessoa que sente, acha muita coisa, nem sempre diz o que acha e cria muitas hipóteses. Na verdade, antes de verbalizar e criar as hipóteses, eu precisava saber o que era aquilo que eu sentia. Acho que já ficou clara nos meus outros textos a dificuldade que tenho em mensurar sentimentos. Sou um amante das palavras mas elas inevitavelmente têm um caráter reducionista que desaprovo. Na tentativa de entender os 2 dias juntos e de tentar organizar este bando de ‘achismos’ que povoam minha cabeça, eu busquei alguns ouvidos amigos. Busquei alguns outros moradores. Precisava falar. Precisava ouvir. E agora, depois de fascinado e impactado pelas fotos, acho que preciso escrever.

Eu fui um dos mais entusiasmados em viajar. Quando vi que nosso desejo de morar numa casinha por alguns dias estava indo pelo ralo, eu esperneei quase como um filho único e mimado. Mas, tirando o fato de eu realmente ser filho único e mimado, eu acredito que minha postura nada mais era que certeza da importância desta experiência para o nosso bem maior, o nosso CACO. Pois bem, demos nosso jeito. Cada um se esforçou o quanto pôde: uns desmarcaram ensaios, outros passaram o dia no telefone para resolver transporte, outros uns se disponibilizaram em dar o dobro da quantia combinada, uma se ocupou com a difícil tarefa de fazer a lista de compras e bolou o cardápio que tinha que agradar a carnívoros e vegetarianos, outros poucos foram às compras na correria da véspera, umas todas foram se depilar, 3 deixaram de ler e estudar para a Ângela Materno e todos saímos num sábado de manhãzinha das nossas casas deixando para trás pessoas e relações (já conhecidas) além dos confortos (que fazem do nosso lar a nossa casa). Talvez estivéssemos indo em busca justamente de novas pessoas, novas relações, novos encontros e nos propondo a não ficarmos só no conforto do já conhecido e do fácil. Talvez aqui caiba um aparte: esta última frase poderia servir também de estímulo neste nosso processo; podíamos fazer um pacto de todo ensaio ser aquele sábado de manhã em que a gente se predispôs a deixar o confortável de lado e estar aberto ao novo e ao outro.

Eu fui muito feliz lá. Mas sinto que não estava pleno. E eu descobri que não estava pleno porque sabia que aquilo lá era processo e pesquisa. Estávamos numa sala de ensaio sim. Porém, numa sala muito mais aconchegante. Eu fui sabendo que era pesquisa e talvez tenha me apropriado demais do “ia ter alguém que observa”. Eu assumi este lugar sem querer. Não fui com este objetivo, não foi intencional e nem acho que todos deveriam ter tido a mesma atitude. Eu sinto que estava com vocês e tive momentos mágicos mas não conseguia desvincular aquelas horas como horas únicas e preciosas que poderiam me ajudar a entender e a fazer melhor nossa peça. A entender melhor cada um de vocês. Para mim aquilo foi ensaio sem calça de moletom preta e camisa branca. Foi ensaio sem pedir autorização de sala e sem pegar as chaves da 604 e, talvez por isso, eu tenha dificuldade em achar que esta viagem tenha sido carnaval. Foi ótimo. Foi divertido. Mas foi trabalho. E também foi doloroso.

Foi muito doloroso ver os movimentos da casa e os meus movimentos que me fazem ficar tão próximo de uns e tão distante de outros. É muito doloroso querer estar junto e conseguir, no máximo, estar perto. É mais doloroso ainda quando você gosta de todo mundo mas as suas escolhas por uns implicam em renúncias por outros. As afinidades gritaram. Se você optou por não pertencer a um cômodo da casa, isto já significou não estar com outros moradores que têm este mesmo cômodo como primeira opção. E aqui ‘optar’ não é um movimento consciente. Se você pega sol na piscina, você não descasca batatas na cozinha. É incrível com os cômodos revelam, afastam ou aproximam. Os lugares de cada um na casa e na vida ficaram bem mais evidentes. A função de cada um, o lugar que cada um ocupa ficou muito claro. E tudo isso é natural. Não existe esforço. Nada foi conquistado no grito. O lugar que cada um ocupa neste latifúndio está no âmbito do humano. ‘Eu, naturalmente sou assim e, naturalmente, ocupo este lugar. E você, naturalmente, cede. Ou nem tão naturalmente assim..’. Estes movimentos de circulação me impressionaram muito. Nada na casa é impune. Nenhum movimento é à toa. Com certeza o lugar que você senta na mesa diz muito sobre você e, se você olhar para a direita e para a esquerda, você talvez entenda porque você sentou ali e não no sofá debaixo do ventiladorzinho. Acho que devíamos decupar mais esta matemática de ações, este entrar e sair... a hora que você saiu da sala para tomar banho diz sobre você e sobre os outros. O olhar vazio que vem logo depois da gargalhada mais sonora, o sorriso escancarado que dá lugar ao sorrisinho tímido depois do flash, o jeito de cada um, cada um que fuma, cada um que bebe, o corpo de cada um, o copo de cada um. Tudo diz. Até a brincadeira, sei que nenhuma foi leviana. Brincando a gente se revela. Não tem aquela frase que diz que toda brincadeira tem um fundo de verdade ? Então, ouvimos e dissemos várias verdades brincando. Algumas foram surpresas e outras, já esperadas. As palavras estão no ar mas nem sempre a gente as ouve. É preciso estar atento.

Eu não queria de forma alguma que estas minhas impressões fossem tidas como verdade absoluta, pois nem para mim são. Também queria deixar claro que não me acho exemplo quando digo que para mim aquilo foi pesquisa e trabalho. Somos diferentes e eu vejo beleza na forma como cada um se relacionou com a vivência. Talvez realmente soe bem mais razoável numa ‘vivência’, viver. E não apenas observar. E todas as minhas hipóteses são apenas hipóteses pois assim como não gosto de mensurar sentimentos também não gosto do movimento que faz a hipótese virar verdade. Deixa eu ficar com as minhas hipóteses. Deixa eu ficar mais um pouco com vocês.

Diariamente

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para trabalhar o amor diário.

Nosso espetáculo, por um bem maior:

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Ele aponta questões, desenvolve algumas e outras deixa em aberto. Ele é, em sua maioridade e exterioridade, movimento. Apresenta o passar de corpos de um lado para o outro. Cria e apaga trajetórias no espaço. São variações de uma mesma imagem, atravessadas. Você sente quando a cena rasga? Argh! Ela corta como uma serra elétrica a cem por cento. Alguma coisa nos diz que algo se instaura... perdura, mas depois precisamos correr, subir, descer, cavar outros e novos espaços. Ele é assumidamente plástico e, por isso, precisa ser exato, compreendido e estudado: pedacinho por caquinho ou vice e versa. Mais do que compreender o seu tempo, o individual, é preciso que se compreenda o tempo do caco, da junção dele com outro e mais outro e neste mesmo movimento fazer o esforço para compreender o tempo do espetáculo. Ele é ousado, atrevido, fala baixo e grita. Ele debocha, dobra, ri e dá sorrisinho de canto de boca. Ele pode parecer simples, bobo, mas não é. É sim singelo, "tímido", rapidinho para não atrapalhar ninguém e, por isso, exuberante em seu detalhe. Ele é água que passa, banho de água fria no calor ou quentinha no inverno. Ele é casa, é todo dia e, talvez também por isso, tão difícil de se atingir. Ele dança, se locomove, treme e toma choque. São imagens. Ele é a variação de rítmos encontrados ao folhear um álbum de fotografias: para algumas fotos - atenção, olho macro - para outras - olhos de canto, passo o olho - para ainda outras - olho micro, no alcance do nariz de uma saudade. No sofá, com este álbum na mão, vislumbra-se a decupagem da partitura exposta. Ou seja: para frente, para trás, mais perto, mais longe, de lado, de costas, deixa eu ver melhor ou essa foto todo mundo já conhece? Casa é o lugar de onde partimos ou inventamos um imaginário de casa que gostaríamos que fosse o nosso lugar de origem? Por essas e por outras ele também é culpa, culpado, dor, abraço partido e choro escondido. Por essas e por outras é nervoso, borboletas na barriga, o primeiro amor, a nova paixão, toda casa é coração. É como o passar de uma onda que recolhe e renova. Ele é o que ainda está por vir e o que hoje batizamos como. Mas ele tem um nome e lugar. Pelo menos foi o que tentei aqui esboçar para mim, para vocês e para a gente.

carinho.

They tried to make me go to rehab but I said 'no, no, no'

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Vim aqui rapidinho só para dizer que falto nesta sexta-feira, 15.

aqui rapidinho só para dizer que estou triste em não ter vocês.

rapidinho só para dizer que gostaria que sentissem falta do caco carente.

só para dizer que acho que é vício.

para dizer que não quero saber de rehab.

dizer que Amy estava certíssima na letra daquela música.

que este vício é bom.



Bom, bom ensaio ! ;)

Aninda sobre a casinha de madeira:

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- o espaço da cozinha que acolhe, apronta e abre. dá liga.
- o espaço da sala que joga, propõe, comunica e coletivisa.
- o espaço do quarto que relaxa, guarda, esconde e sonha.
- o espaço do banheiro que abriga, cheira e evidencia.
- o espaço da grama que celebra, rola, deita e bate palma.
- o espaço da piscina que desafia, transforma e colore.
- o espaço da mesinha de chá que canta, toca e cria.
- o espaço das chaves que revelam, desvendam e facilitam.
- o espaço da única panela que une e organiza.
- o espaço da mesa que trabalha, corta e separa.
- o espaço da pia que implora, dá brilho.
- o espaço da porteira que recebe.
- o espaço do desnível que desorienta.

muitos espaços para dentro de um só CACO.

agora já temos memórias espaciais coletivas e podemos jogar com elas.
memória é trabalho.

pós-flashes

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aqui. aguardem um tiquinho, to dando um trato nas fotos que gostei mais e quero postar tudo de uma vez.

tem muita coisa linda.
também, depois de dois dias lindos, que mais a gente poderia querer?

um beijo estalado que eu queria dar em cada um agora.
boa noite, crianças lindas de hoje.


eu sei que isso não é algo muito comum, mas eu realmente preciso falar da beleza do meu pai.

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Na CASA da minha mãe tem uma fotografia que sempre me faz rir.
Ao meu lado, como que do meu tamanho, meu pai. No alto, de pé, você.
No centro da foto, uma menina distraída diante de um mundo inteiro. Cair em CACOs, engolir sapos, quebrar cabeças, prender o ventre, chorar pitangas, queimar os dedos. Existe um infinito entre nós duas e ainda assim, ou talvez por ser assim, somos FAMILIA. E se me diz que eu vou ficar bem, se me dá todo o seu tempo sussurrando orações para que eu não perceba que o sol não esteve lá a noite inteira e se me levantar tão alto que eu não possa ver você chorar quando a porta se fechar atrás de mim. Eu fico pensando se você seria capaz de ir... Na tal fotografia da CASA da minha mãe eu me desafiava nas brincadeiras mais longas e ganhava na frente do espelho, derrotada. Vestindo escondido o seu anel de casamento, trancada do lado de fora, eu ria gritando das nossas diferenças e da sua culpa por meu mundo CACOfônico. Era divertido berrar, numa espécie de apnéia, o que pra mim era o maior dos desafio. VOCÊ SERIA CAPAZ DE IR? Quando volto, no silencio da memória presente, eu consigo ouvir o som do seu choro atrás da porta e sentir o sussurro dos teus desejos notívagos no meu cabelo. Faz muito tempo que eu não esqueço a chave de casa.

Da casinha de madeira:

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Obrigado.

vc nome, eu cor.

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da minha paixão.

do sentimento maternal. de como classificar as coisas. de como se aprende a dar nome a dor. do grito poético de cada um. da surpresinha e das conquistas do jardim de infância.

sou pequenininho do tamanho de um botão, levo papai no bolso, mamãe no coração, uma saudade que é da cor da preguiça. preta. da alegria laranja e da tristeza vermelhinha.

Tudo caco (que lembra "tudo picotadinho")

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Coisa de mosaico em cacos e seus fragmentos. É teia que liga tudo: o seu no meu, a cola aqui acolá. Casa de papel frouxo, casa de cimento pouco. Qual o controle dos fatos e papos? São todos da família. Sinta-se em casa e não se esqueça de levar um pedaço de bolo pra sua mamãe, ah leva sim! Circulação. De ar. Respirar. Respirar. Qual canto eu canto uma casa muito engraçada? ou a família unida que sempre pede perdão por qualquer razão? Chora amorzinho, benzinho, bebezinho. É feriado da casa nos tempos do nomadismo, ninguém pertence a estrutura sem ser ela própria extensão do seus cômodos e descômodos.
Você que casa e eu que viajo. Você que feliz, eu que caso.

Resolvi publicar esse rascunho inacabado que achei abandonado aqui. Em 09/10/2011 - Um ano depois.

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as crianças estão dormindo

aproveito pra ouvir músicas que só eu gosto

aproveito pra botar pendências em dia

aproveito pra repensar palavras ditas em um desabafo que era só meu e poderia ter permanecido abafado só em mim.

tenho que resolver coisas antes do feriado, já vou levar as crianças pra viajar.

tenho que cuidar do meu corpo casa abandonado

tenho que

para a casa que se despi

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MULHERES E CRIANÇAS PRIMEIRO

Prá Começar

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Pra começar
Quem vai colar
Os tais caquinhos
Do velho mundo

Pátrias, Famílias, Religiões
E preconceitos
Quebrou não tem mais jeito

Agora descubra de verdade
O que você ama...
Que tudo pode ser seu

Se tudo caiu
Que tudo caia
Pois tudo raia
E o mundo pode ser seu

Pra terminar.
Quem vai colar
Os tais caquinhos
Do velho mundo...

(Marina Lima)

ando pensando muito nessa música.
em nosso CACO.
caquinhos e suas colagens.

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amor, tem colo aqui.
pra vc e pra cada um de nós. cada pedaço de cada momento de cada dia em que construímos cada espacinho dessa casa.
escuto essas palavras, seu cinzeiro cheio, as desculpas que descem as escadas quando o elevador está quebrado.
encosto a nuca pesada no mais novo habitante de nós sem nem pedir licença. sem perguntar se posso entrar. quando os desconfortos surgem ao mesmo tempo, a gente pelo menos tem um amigo de borracha para compartilhar. dividir mesmo, passar de mão em mão. conforto.
das caras fechadas, das falas engasgadas, atropeladas, atropelantes. de como tudo isso já vira grito no corpo. sorriso de olho.
e muito mais das caminhadas no mesmo sentido. nem que a gente tenha que virar aparador.

tá firme?

Tudo Sobre Minha Mãe.

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Jessé, Lovie Elizabeth, Maurício, Roberto, Jessica, Ana eugenia.
Agrônomo, bailarina, fracassado, economista, arquiteta, psicóloga.
Engraçado, cool, doce, bem sucedido, criativa, gorda.
Casado, desquitada, casado, casado, casada, casada.
Um casal, 9 sobrinhos, 2 meninos, 2 meninos, um casal, 1 menina.
Feliz, à procura, não conhece, aparenta, perdeu de vista, feliz.

Sozinha na cozinha porque ainda não existia leite condensado em latinhas individuais. Lugar de chocolate é na cama. “Você é mesmo um mastodonte! Você nunca vai arranjar um marido se continuar desse jeito!” Na escada de entrada da casa olhos fixos na porta pra ver se alguém está vindo. Como se fechasse os olhos pensa que a escuridão deve ser boa nessas horas, ouve os ruídos que comprovam que alguém está distraído. Que alguém não está sozinho. “Você nem deve poder ter filho... se conseguir engravidar ou você morre ou morre a criança.” Toda noite numa imagem turva é possível ver o futuro: Ia ter cabelos cacheados, ia saber não se preocupar, ia ser Gabriela, ia não ter medo de pedir ou de perder ou de chorar ou de vencer, ia ter um bumbunzinho macio, ia ter café no leite, ia andar descalça, ia ter um escuro particular, ia ter amigos e sede, ia ter uma calma e duas certezas, ia ter esperança no invisível, não ia ter solidão. O futuro é interrompido pelo silencio da cama vizinha cheia de fios de cabelo que se movem em marolinhas suaves, ignorantes do boa noite especial que recebia do pai. No dia seguinte a mãe, depois de não conseguir convencer que fora apenas impressão, ficou dias sem dirigir a palavra a filha que teve a previsão substituída pela prevenção. Classe gramatical : Adjetivo. Possui 11 letras. Possui as vogais: a e i o. Possui as consoantes: g l r v. Irrevocável. irrefutável inesgotável irrecusável inseparável indesejável impermeável indubitável confortável intolerável inaceitável inabordável irrealizável adaptável inegável provável Classe gramatical: Adjetivo Possui 11 letras Possui as vogais: a e i Possui as consoantes: l p r v. irremediável. irrecusável irrefutável inabordável abominável saudável insuportável estável inviolável mutável
Eu comprei a minha tesoura, a minha cola, o meu papel, os meus hidrocores, a minha caixa de lápis de cor de vinte quatro cores e liquipaper. A minha roupa foi eu que lavei, minha cama fui eu que arrumei, meu sapato fui eu que amarrei! Eu nunca te pedi nada, eu nunca peguei nada seu, eu não preciso de você! Não fui eu quem perdeu sua borracha!

- Mãe? Que profissão quem que ajuda as pessoas tem?
- Como assim?
- Quem ajuda as pessoas pra elas não ficarem tristes?
- Ah... O psicólogo, acho...
- É? Então eu quero ser isso quando eu crescer!
- Psicóloga?
- Não. Desentrestecedora.

As crianças lá de casa são mais novas. As crianças lá de casa são seis, contando comigo. Os meninos limpam o jardim, as meninas limpam a casa. As crianças lá de casa vão à escola e a igreja. A escola é do papai. Mesmo. A igreja não é toda da mamãe, só o coral. As crianças lá de casa gostam do natal, mas não de aniversario. As crianças lá de casa têm medo de bater com a cabeça na parede, mas não tem medo do chão. Farpa. As bicicletas rompem as paredes da casinha. Tem terra no tapete. Os meninos limpam o jardim e ficam na pracinha. As meninas vão dormir cedo que amanhã tem aula de piano. Eu não vou que eu não sou mais criança e tem terra pra tirar do tapete.


- Cala a boca.
- Por quê? Você é um mentiroso, um falso, um grosso! Você se acha dono da verdade, mas não vê um palmo a sua frente!
- Cala a boca...
- Por quê? Você não manda mais em mim e eu não sou a mamãe! Eu não sou ninguém! Não sou ninguém aqui perto de você! Porque você asfixia...
- Ca-la a bo-ca.
- Por quê? O quê? Me diz! Me diz! Fala pra mim! Porque eu não entendo! Eu não sei! Eu não sei que cor, que fato, que sabor, que dor, que nota, que tom, que força, que equação, pronome, lei, não sei qual piano, estética, ética! ...eu não passei no vestibular, eu não parei de chorar,eu aprendi a fumar, a me mastubar, a duvidar...
- Cala a boca!
- Por quê? Eu não preciso do que nunca tive.

Depois do táxi:

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Gosto de todas as nossas discussões. Gosto de ver nossos olhos e ouvidos abertos, tentando compreender o que, em muitos momentos, ainda não tem forma. Gosto de pensar ao lado, articular, debater. Gosto de sentar à mesa, mesmo que imaginária, para repensar nossa organização familiar/trabalho. Gosto de vê-los se expondo e, com isso, me expor também. Eu não sei o rumo, não sei para onde vamos...estou perdido assim como vocês. No meio do meu caos, cavo buracos. Intensifico um olhar, testo outros, busco renovar sempre a minha conduta para que eu não me prenda em uma só certeza. Gosto de me ver tentando, ou seja, em movimento. Perdi o mapa, o manual de instruções, a cartilha, a bula, a receita, o comofás... Perdi e, na verdade, não sei se quero enocontrar. Sei que quero encontrar vocês e, a cada dia, sair vitorioso da sala de ensaio. Buscamos entender melhor o outro quando olhamos para nós mesmos, nos revisitamos. Gosto quando sentamos em roda, abrimos o verbo e depois, se for preciso, pedimos desculpas. Gosto quando está claro e não escuro. Mas mesmo com tanto gosto, ainda não sei. Perdi o discernimento, a conduta, a classe, o manual de boas maneiras... em CASA nos comportamos como quisermos. Afinal, somos nós que ditamos as regras. As novas regras. Mas e que regras são essas? Eu também não sei. Não sei da tv, do interesse pelo seriado, pela pipoca ou pela janela nova. Só sei do que dizem para mim em aberto ou em confissão. Só sei do que se extende de meu corpo e que busca atravessar o de vocês. Sei de minha vontade e da vontade que sinto quando estamos juntos, todos. Gosto de pensar no futuro, de ver a CASA prontas, mas ainda é cedo. Talvez. A maneira que encontrei para me organizar foi pensar nos tijolos, no processo de montagem deles, em seus variados encaixes, pesos e medidas. Fico mudando a ordem, buscando diferentes combinações, fico pensando assim, assado, cru...Fico tentando. Gosto de vê-los querendo viajar, tramando, no melhor sentido da palavra, formas e lutando contra a falta de dinheiro. Em algum lugar isso me motiva, divido. Gosto também de quando vamos embora em silêncio e depois pensamos que muitas outras coisas deveriam ter sido ditas...Gosto de saber que depois da quinta tem a sexta e que depois tem o sabádo e que depois tem o domingo e que depois tem mais uma terça e assim seguimos... Gosto. Escrevo para me entender melhor, entender o espaço que estamos buscando e, aos poucos, construindo. Escrevo para ficar lúcido, para me lembrar de apagar as luzes e dormir. Gosto quando nos apaixonamos de maneiras diferentes e conseguimos encontrar beleza dentro disso. Gosto das diferenças..aliás, amo. Gosto deste processo que dará origem a um espetáculo que ainda não sabemos qual é e isso não me apavora. Gosto também desse lugar, da experimentação sem uma cobrança maior, gosto de tentar traduzir em movimento o que meses atrás defendi em longas páginas escritas.

o meu cinzeiro abarrotado.
a minha cabeça que não cessa.
o meu tapete colorido.
as minhas mãos e pernas cansadas.
o meu bafo.
a minha falta de sono.
a minha vontade que pulsa
em me reencontrar.
comigo e com vcs.

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Resto do verde na casa de domingo.

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A intimidade que é compartilhada.

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Outras pessoas, outra CASA, outros espaços poéticos.

fotógrafo mais que incrível: Ryan McGinley

A PROJEÇÃO DO CORPO NO CONTEXTO DA OBRA - UMA REFLEXÃO A PARTIR DA INSTALAÇÃO “A CASA É O CORPO” DE LYGIA CLARK

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O corpo como enfoque das reflexões da obra – com exceção daquela que usa o próprio corpo como suporte – não é mais percebido unicamente por suas características basilares, e sim como parte da imensa teia de significações que a obra opera. Uma vez que o corpo, concebido no cruzamento de conceitos e processos, passa a ser compreendido – tanto na experiência artística quanto na experiência reflexiva – como algo amalgamado ao contexto da obra. O corpo, nesse nível de percepção e análise, está impregnado de um rumoroso mundo externo a ponto de confundir-se com o mesmo e permanecer na impossibilidade de uma identidade conferida apenas por suas inerentes singularidades. O corpo pertence ao espaço do mundo, com o qual nunca atinge uma estabilidade.

Freqüentemente podemos observar em certas propostas de arte que o corpo físico se faz entrever fragmentado, desconstruído, ou distorcido, e assim, (e apesar disso) facilmente identificável. Porém em outras, o corpo encontra-se tão pulverizado em múltiplas referências – sociais, históricas, políticas, científicas, metafísicas, etc. – que não há qualquer elemento identificador de sua organicidade. Em todas essas abordagens, há sempre uma idéia de prolongamento do corpo – o corpo individual está expandido em seus desdobramentos conceituais e, ao mesmo tempo, na acepção plástica da obra.

Casa e corpo – uma engrenagem simbólica

Há exatamente quarenta anos atrás, Lygia Clark (1920-1988) apresentou, duas vezes, e no mesmo ano, a instalação “A Casa é o Corpo”, obra de fundamental importância para a história da arte brasileira: pela primeira vez, no MAM-RJ e posteriormente, na Bienal de Veneza, quando expôs em sala especial, toda a sua trajetória artística até aquele momento, em 1968.

“A Casa é o Corpo” se constituía de um grande balão plástico situado no centro de uma estrutura formada por dois compartimentos laterais e um labirinto de 8 metros de comprimento – uma obra-ambiente concebida “para ser penetrada pelo visitante como abrigo poético” (MILLIET, Maria Alice. 1992. p.111).

A palavra “abrigo” proclama a função primordial da casa: a de abrigar o corpo. Nesse caso, a casa-obra de Clark é basicamente um espaço que “acolhe” o público para a revivência intra-uterina. A obra-casa é um corpo fecundo – um imenso útero; um espaço-continente. O título da instalação aponta essa determinada compreensão, porém, por si só, evoca outros imprecisos sentidos, os quais, inevitavelmente, repercutirão em inexauríveis leituras.

A Casa é o Corpo – o coletivo e o individual

A instalação “A Casa é o Corpo” funda a noção clarkiana de “corpo coletivo” a qual, através de outras proposições, passa a se desenvolver muito significativamente ao longo dos anos 70, época da ditadura militar no Brasil. Nessa época, dedicando-se às “vivências criativas”, e no objetivo de distanciar-se cada vez mais do objeto, Clark continuava se referindo ao termo “abrigo poético” ao mesmo tempo em que inverteu as palavras do título da instalação e, enunciou: “o corpo é a casa”. O corpo que, a partir daquele momento, passa a ser o meio estruturante das “ações vivenciadas”; das ações coletivas transformadoras, ou transgressoras – porque “o gesto é soberano e insubmisso a qualquer regra” (MILLIET, Maria Alice. 1992. p.117). Evidentemente que essa “poética de corpo” construída na emergência de uma imaginação criadora e crítica, continha nítidas intenções anti-establishment – e não somente em relação ao sistema das artes.

É importante ressaltarmos que nessas ações coletivas, os corpos individuais dos participantes tornavam-se um “todo orgânico” ou, uma “arquitetura viva”, conforme Clark. “Trata-se de um abrigo poético onde habitar é equivalente do comunicar” (Clark in MILLIET, Maria Alice. 1992. p.131). As ações, através dos gestos dos participantes, construíam esse “corpo-casa”, ou mais precisamente, essa obra com qualidade de corpo no sentido atribuído por Merleau Ponty: “Ser corpo, (...), é estar atado a um certo mundo” (PONTY, Merleau. 1999. p.205).

A Casa é o Corpo – na Contemporaneidade

O embate “corpo individual x corpo coletivo” está geralmente referenciado conscientemente pelo próprio artista. Doris Salcedo (1958), por exemplo, artista colombiana, ao usar roupas, móveis e objetos domésticos – em obras realizadas na década de 90 e, até início de 2000 – estava, sobretudo, se referindo às atrocidades políticas cometidas em seu país. O título da obra “La Casa Viuda” (A Casa Viúva, 1992 -1995), se refere à expressão colombiana que aponta o lar em que subitamente um membro da família desapareceu pela violência política.

Para Salcedo, os móveis, alterados com cimento, e por vezes desarticulados ou, empilhados em grandes blocos, plasmam a idéia de brutalidade suportada pelo indivíduo e, por conseguinte pela coletividade. A imagem da “casa”, re-significada na obra de arte, reflete sobre o “corpo individual” dentro do “corpo social”: essa é uma reflexão de corpo em sua totalidade. O espaço da moradia representado tanto pelos aspectos arquiteturais internos e externos, quanto pelo mobiliário e objetos cotidianos, perpassa, além do conceito de “abrigo” ou, de “espaço privado”, a idéia de um “espaço coletivo” primordial. A casa é o ambiente em que se processam os primeiros sentimentos de coletividade; o lugar onde se estruturam modelos de sociedade baseados na organização familiar. Assim, a casa constitui o espaço fundamental das experiências socializantes, e como tal estabelece uma metáfora poderosa do “corpo coletivo” ou, do “corpo social” – uma simbologia que se faz muito presente na arte contemporânea.

Cildo Meirelles (1948) Tunga (1952), Adriana Varejão (1964) e José Bechara (1957) são alguns exemplos de artistas brasileiros – para citar apenas alguns – que, em certos momentos articulam os desdobramentos dessa premissa, cada um a seu modo, em uma escala de múltiplas variações conceituais e formais.

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Autora: Dione Veiga Vieira

descobri um conjugado dentro de mim.

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Eu queria muito que você deixasse. Deixasse claro para mim o que está acontecendo com a gente. Ou apenas comigo. Não sei.

Você só não deixou a porta aberta porque na nossa história ainda não teve espaço para porta. A porta ainda não entrou em cena. Entrei eu, você, baldes e até sanduicheira já entrou. Mas porta ainda não. Talvez porque porta traga a idéia de particular e coletivo, de público e privado, de intimidade e exposição. E, entre nós, ainda não existe esta separação entre euvocê e euvocê + mundo. Estamos sempre na segunda opção.

A separação que existe aqui é o descolamento do que se sente daquilo que se expressa, seja no corpo ou na fala. E são as paredes (muitas !) as responsáveis por isso. Elas são invisíveis, porém se impõe no espaço e se fazem perceber. Têm personalidade forte, falam muito e gritam, como o pai. Criam bloqueios e obstáculos quase intransponíveis que só podem ser superados se um de nós dois tiver a habilidade de um ginasta (habilidade esta que eu não tenho). Eu não sei quem construiu estas paredes. Talvez elas já estivessem aqui desde o primeiro dia. Mas é que a gente só percebe uma parede invisível quando a gente dá de cara nela. Quando dói.

Falando em dor, confesso que isto não existe aqui. Existe um incômodo pela falta de compreensão de tudo e pela falta de garantia do que vai ser da gente mas não exatamente dor. Você é encantador e esta é a única dor que existe aqui dentro de mim. E confesso que esta é a melhor de todas as dores.

Então é isso. Acho que a gente fica por aqui. Se é que a gente fica. Ainda estou me habituando com tudo isso. Sou morador novo e estou pisando em ovos. Ou em farpas. Não sei. Dá para perceber aqui a dificuldade de ter certezas. Entretanto, no meio de tantas incertezas me parece que a única garantia que posso dar é: aqui não tem portas, aqui tem paredes invisíveis e a dor do encantador é a melhor das dores. Só. Sou incapaz de saber até mesmo se moramos juntos ou se moro sozinho. Talvez a foto 3x4 que eu tenha pregado na parede invisível seja um indício de que só eu more aqui. É só raciocinar: quem pode ter o corpo todo, não vai se satisfazer com uma foto 3x4. Então eu moro só e não sei se te dou o meu endereço num papel amassado para, quem sabe um dia, você toque a campainha, faça uma visita despretensiosa e, quem sabe de novo, fique para sempre (se bem que eu acho para sempre muita coisa). Você traz as frutas, eu te ensino a preparar um sanduíche e a gente vê como é que fica. Se fica. Enquanto você não entra por aquela porta (que ainda não existe mas um dia vai existir pois quero que minha casa seja igual a do meu vizinho), eu continuo olhando aquela sua foto 3x4 na parede invisível (mas que um dia vai ser visível e palpável).

Vai ser uma parede de cimento, areia e água construída a 4 mãos. Tijolo por tijolo. Quando a gente já tiver construído as paredes, aí a gente começa a pensar nos detalhes. A gente pode deixar para escolher a cor por último. O importante é a base, a estrutura. O tijolo é mais importante que o quadro pendurado. O tijolo é mais importante que o FengShui. O segredo está no tijolo nosso de cada dia. Esta parede é que vai sustentar a nossa casinha e vai sustentar a gente. Podemos nos apoiar nela. Ela que vai servir de abrigo para possíveis outros nossos. A nossa parede vai ser linda. Mesmo que um dia fique descascada, com ranhuras e marcas do tempo, ainda sim ela vai ser linda. Ela vai ser nossa. Nosso resultado. Ela vai ser do jeito que a gente quiser. Azul e dura.

Dia das maes

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Tu não era assim. Eu casei com outro cara completamente diferente. Ah, as visitas que se danem! É bom que todo mundo aqui saiba que eu não te conheço. Todo mundo ouviu o que eu disse? Não conheço esse cafajeste que mora comigo. Nervosa tá o diabo que te carregue. Eu não to to nervosa, não. Eu to louca, entendeu? Foi você seu nojento, que me botou pinel. Foi você, com suas idas a ''Sauna''... Sauna, hein, sujo? Volta bêbado quase dia claro, da ''sauna''. Palhação! Cala a boca é pau! Cala boca já morreu, tá legal? Quero que todo mundo aqui saiba que, ano passado, você jogou nos cavalos o dinheiro do meu presente do Dia das Maes; que todo aqui saiba que a casa é sustentada pelo meu pai, ''o velho esclerosado'', que você detesta mas não encara. Não fala o nome do menino com essa boca imunda! Nada disso aqui é novidade. Quando uma prostituta qualquer telefonou pra cá dizendo palavrão, foi o garoto que atendeu. E ainda apanhou por ter respondido mal. Depois de surrar o filho de quase tirar sangue, você foi tranquilamente, jogar sinuca. Exagerando, uma ova! E a doença de rua que voce me passou, também é exagero?
(Aldir Blanc)

 

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