Por CACO.

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Estamos a menos de uma semana da estréia e a sensação que tenho é boa. Muitos afazeres, agenda lotada, dia corrido. Muitos encontros, compromissos, reuniões, roteiros e mais roteiros. Listas variadas, textos, cores, formatos e pessoas. Pessoas.

Lembro-me agora do início, onde tudo parecia sonho ou algum derivado. Lembro-me das mãos frias, do olhar atento, por vezes, medroso e inquieto. Ainda ontem me debruçava nos livros, buscando articular a melhor maneira de transpor para o lugar da cena aquilo que no papel tanto me mobilizava. Hoje, temos um texto, uma dramaturgia composta por todos aqueles que fizeram e ainda vão fazer parte deste imenso e maravilhoso projeto. Afinal, aonde está a casa e quem é, ou quer ser, dono dela?

Imagens... Nos guiamos pelo incerto, pelo terror, pelo medo e pela vontade. Me guiei pelo não saber, optando por posições abertas, flexíveis. Nos guiamos pela produção diária, por cada sala de ensaio. Me guiei por aquilo que ficava, ou seja, que na repetição via, ou pelo menos buscava ver, algum sentido ou necessidade. E fomos todos guiados pelo espetáculo, por sua poética que foi se definindo lentamente. Rapidinho para não encomodar ninguém.

Um grande colorido em cena. Atores, intérpretes, personas, faíscas de personagens... Quem somos? Como é a nossa neutralidade? Decupar momentos, estímulos, movimentos, olhares e respirações. O neutro se acha dentro, no acúmulos dos estados, em suas transições e variações. Sou boneca, tia, peixe, pai, cego, mãe, irmão, professora de balé, boi, abraço, piscina, filho, filha, água, fogo, primo, prima, tapete, sexo, violão, copinho, cigarro, balde, avô, avó, gaiola, dindo e dinda. Sou aquilo que melhor conscientizo e transmito. Sou minha melhor idéia, minha dramaturgia dentro de outra maior. Sou o suporte para meu próprio foco. Para o espetáculo.

Como se dança? Acredito que ainda nos encontramos longe de responder com precisão esta pergunta. Mas arrisco dizer que estamos mais próximos dela. Mais próximos de uma verdade que começa, agora, a nos invandir por inteiro, por completo. Uma verdade que será plena em contato com o público, no momento da troca, "no momento em que gritarmos a história real de nossos fracassos". Aí sim...

Sinto-me feliz por estar com vocês, por mais uma vez acreditar na capacidade criativa de um coletivo. Sinto-me seguro, firme e passeando. Gosto de me perder nos olhos de vocês, vê-los ganhando o espaço, domando as marcas e crescendo com elas. Gosto deste texto que vai entrando na pele, entre dentes, e que desemboca nessa vontade louca de falar, explanar. Gosto do suor, da curiosidade e também um pouco da impaciência de vocês.

Escrevo pois, neste momento, é o que me parece mais oportuno. Escrevo para tentar compreender mais este ciclo que está apenas começando. É paradoxal esta coisa do início começar no fim. Bom, pelo menos, eu acho. Como acho que outras coisas também são paradoxais no processo de construção de um espetáculo. Mas este assunto podemos deixar para um café.

Em copacabana não venta, o calor está certeiro e o ventilador, mesmo no máximo, produz pouca diferença. Atrás de mim, minha cama. Todas as noites dessa semana, ao deitar, relembro nosso espetáculo. Relembro o que penso sobre ele, o que todos vocês pensam, os elogios e críticas que recebemos. Talvez, seja por isso que eu demore tanto a engatar no sono. Mas não. Acho mesmo que já consolidei este tipo de momento. Um hábito incosciente, quem sabe? Pensarei.

CACO: espero por você como quem espera por um filho, por um novo messias ou coisa parecida. Não que você vá salvar as nossas vidas. Não sou este tipo de pessoa, bem sabes. Mas é que sinto, em algum lugar, que você nos trará alegria, convíveo e uma explosão de abraços. Produzir memória está longe de querer juntar os pedaços e entregar pronto o mosaico. Produzir é pensar mais um vez e, por isso, toda memória é trabalho.

2 comentários:

Anna Clara Carvalho disse...

lembro agora da primeira vez em que pulamos juntos. éramos três e comemorávamos a possível união em uma festa esquisita.
depois de te ler penso como é vc inteiro. aqui, nas palavras, e todo dia, com o olhar perdido que não para de pensar nunca enquanto todos os outros focos já se transformaram.
quem transborda amor reúne todas as qualidades parecidas em volta. e cria um espetáculo que não poderia fazer outra coisa senão transbordar.

sou amor agora, porque vc me toca.
e tenho sido há um tempo, constantemente, porque essas pessoas e esses estados que carregamos tem me feito melhor.

caio <-> casa <-> comigo.

Fred disse...

Gosto quando vc diz que nosso CACO nos trará alegria e a certeza do convíveo.

Acho que estar junto de vocês é o que mais me deixa feliz.

 

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