Quebrou...

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Quebrou Niterói. Quebrou dormir no mesmo quarto que a irmã. Quebrou ser presidente de turma. Quebrou competição, qualquer tipo de esporte ou jogatina sem fins lucrativos. Quebrou fumar escondido no recreio. Quebrou o lanche de domingo e as viagens com o pai. Quebrou as compras com a mãe e o elevado da sala de jantar da família. Quebrou a tampa da privada e, me lembro agora, que essa foi uma de nossas maiores discussões. Quebrou o sexo, o tesão por meninas e a rede da casa da Sol. Quebrou o corredor, o 901, o 1304 e o bloco B. Quebrou o play, quebrei eu e você. Quebrou se sentir pequeno, estranho no ninho, sem amigos e paradão. Quebrou o Largo do Machado, o parque, a cadela e as lembranças dele, o velho. Quebrou o desejo pela morte. Quebrou a relação, o vaso de acrílico, os tabuleiros de cocada no dia do índio. Quebrou o cobrir, o velcro preto e a camisa ilustrada com um sol - a obrigação de estar sempre sorrindo. Quebrou o elevador uma série de vezes. Quebrou a luz, a revista a fama e a zorra. Quebrou uma série de coisas pequenas que não podem, e nem devem, fazer parte dessa lista. Quebrou o cabelo, a barba e o bigode. Quebrou viajar com os pais, o banco de trás e o cheiro forte. Quebrou e continua quebrando.

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